terça-feira, 12 de julho de 2016

poesia.net (357) * Carlos Machado - SP



Número 357 - Ano 14
São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2016
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«Uns expiram sobre cruzes, / outros, buscando-se no espelho.» (Cecília Meireles) *

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Dez Poetas Da esq. para a dir. e de cima para baixo: Cassiano Ricardo; Giuseppe Ungaretti; Cacaso; Emílio Moura; Eugénio de Andrade; Affonso Manta; Mario Quintana; Emily Dickinson; Lêdo Ivo; Adriane Garcia


Amigas e amigos,


Este boletim, mais uma vez, baseia-se no acervo do poesia.net. Aqu vai, portanto, mais uma edição centrada numa ideia. Desta vez, o eixo é: poemas curtíssimos, que conseguem dar seu recado lírico em pouquíssimas palavras.

Após vasculhar o histórico do boletim, selecionei dez micropoemas de dez autores diferentes. Não se trata de dizer que são os melhores poemas curtos já publicados. Foi difícil selecionar estes, inclusive porque tomei o cuidado de não pinçar textos de poetas publicados muito recentemente, inclusive na edição passada.

Mas tenham certeza: deixei de lado muitos outros "poemínimos" interessantes e resolvi ficar com apenas dez.

Portanto, repito: este boletim, assim como o anterior, inclui apenas poemas que já foram publicados no poesia.net. Representam uma seleção mais ou menos arbitrária e não querem sugerir que sejam "os melhores" sob nenhum critério. Aliás, a sequência deles ao lado segue apenas a ordem cronológica das edições.

Os poemas são mínimos. Então, por uma questão de coerência, também não me estenderei nos comentários. Seria, de certo modo, um contrassenso. Vamos a eles.

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Cassiano Ricardo
poesia.net n. 2


O poemeto "Serenata Sintética", do paulista Cassiano Ricardo (1895-1974), abre a seleção. Com seis palavras, que formam versos monossilábicos, o poeta, como sugere o título, sintetiza uma seresta à moda antiga.

Aliás, "seresta" e "à moda antiga" são termos redundantes. Ainda existem serestas? Pode o cantor metropolitano, na calçada, soltar a voz para a namorada que mora no vigésimo andar?

O poema de Cassiano foi publicado originalmente no livro Um Dia Depois do Outro, de 1947.

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Giuseppe Ungaretti
poesia.net n. 143


O italiano Giuseppe Ungaretti (1888-1970), uma das vozes poéticas mais destacadas de seu país no século XX, escreveu o poema "Manhã" em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Não apenas durante, mas na guerra.

Essa pequena joia de concisão — apenas quatro palavras — foi escrita enquanto o poeta era soldado na frente de batalha. Ungaretti é preciso na data e no lugar da composição: "Santa Maria La Longa, 26 de janeiro de 1917".

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Cacaso
poesia.net n. 199


Mineiro de Uberaba, o poeta, ensaísta e letrista Cacaso — apelido de Antonio Carlos Ferreira de Brito (1944-1987) — viveu desde criança no Rio de Janeiro. Deixou, na minha opinião, o legado mais consistente da chamada poesia marginal.

O poemínimo "Lar Doce Lar" saiu pela primeira vez no livro Na Corda Bamba, de 1978.

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Emílio Moura
poesia.net n. 285


Também mineiro — porém da geração de Drummond, de quem era amigo —, Emílio Moura (1902-1971), no texto "Às vezes, reflete sobre a chegada da poesia. O amigo itabirano classificava sua poesia como música de câmara: "Peculiar surdina, íntimo violino, jeito manso de ser".

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Eugénio de Andrade
poesia.net n. 286


O poemeto "Espera", do português Eugénio de Andrade (1923-2005) é de uma beleza extraordinária. Trata de amor usando um lirismo inventivo com traços de surrealismo. Foi publicado no livro As Mãos e Os Frutos, de 1935.

•o•
Affonso Manta
poesia.net n. 297


O texto "De um rabisco", o baiano Affonso Manta (1939-2003) oferece uma reflexão sobre a natureza do poema — a composição em verso. Para ele, o poema tem de ser perfeito, caso contrário come o poeta.

É curioso notar como esse pensamento se afina com as ideias do poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz (1914-1998). Nos ensaios de O Arco e a Lira, Paz defende que o poema é quem faz o poeta, e não o contrário. Para os menos avisados, isso parece um disparate.

Mas, analisando com cuidado, a dialética de Paz é firme e consistente. Afinal, só quem já escreveu um poema merecedor desse nome pode se dizer poeta. Portanto, o poema vem primeiro e, desse modo, cria o poeta.

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Eugénio de Andrade
poesia.net n. 301


O haikai (ou haicai), de origem japonesa, é certamente a forma de poema breve mais celebrada no mundo inteiro. Nesta seleção, o poeta gaúcho Mario Quintana comparece com um texto chamado "Haikai", embora não seja exatamente um haikai nos moldes clássicos: três linhas de 5-7-5 sílabas, além de outros detalhes.

No poemeto quintaniano, o que se destaca é uma bela metáfora para o nascimento da lua. "Haikai" foi publicado no livro A Cor do Invisível, de 1989.

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Emily Dickinson
poesia.net n. 306


A americana Emily Dickinson (1830-1886) — uma das poetas mais queridas de seus compatriotas e de muitos leitores no mundo inteiro — escreveu centenas de poemas de curtos. Na verdade, de seus 1775 poemas catalogados, a maioria se enquadra na classificação de poemetos.

De Emily escolhi o poema "1222", com apenas quatro versos. A tradução, de Augusto de Campos, está no livro Emily Dickinson – Não Sou Ninguém – Poemas, de 2008.

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Lêdo Ivo
poesia.net n. 326


O poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012) acertou em cheio no lirismo quase descomprometido do poemínimo "O Dia dos Homens". É leve, tranquilo e tem o ritmo de adágio popular rimado.

Esses seis versos saíram originalmente no livro O Rumor da Noite (1996-2000), um dos últimos publicados pelo poeta.

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Adriane Garcia
poesia.net n. 334


"Esculturas Vivas", da poeta belo-horizontina Adriane Garcia (1973-) tem o jeito de uma observação captada em ambiente público:  mulheres com filhos no colo dormindo.

O poemeto de Adriane saiu no livro O Nome do Mundo, de 2014.


Um abraço, e até a próxima.

Carlos Machado


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10 poemas mínimos

   • Cassiano Ricardo  • Giuseppe Ungaretti
• Cacaso  • Emílio Moura  • Eugénio de Andrade
• Affonso Manta  • Mario Quintana • Emily Dickinson
• Lêdo Ivo  • Adriane Garcia


 
 
Denis Sarazhin - Luz do sol
Denis Sarazhin, ucraniano, Luz do sol




• Cassiano Ricardo


SERENATA SINTÉTICA

Lua
morta

        Rua
        torta

Tua
porta




• Giuseppe Ungaretti


MANHÃ

          Santa Maria La Longa, 26 de janeiro de 1917


Ilumino-me
de imenso



MATTINA

          Santa Maria La Longa il 26 gennaio 1917


M'illumino
d'immenso.






Denis Sarazhin - Uma memória que vale a pena guardar
Denis Sarazhin, Uma memória que vale a pena guardar



• Cacaso


LAR DOCE LAR

          p/ Maurício Maestro


Minha pátria é minha infância:
Por isso vivo no exílio.




• Emílio Moura


ÀS VEZES

Às vezes, subitamente, a poesia te visita.
Pura.
Infinitamente pura.
Como uma rosa.
Melhor ainda:
como a ideia de rosa.



Denis Sarazhin - Irmãs
Denis Sarazhin, Irmãs




• Eugénio de Andrade


ESPERA

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.




• Affonso Manta


DE UM RABISCO

Há que deixar em paz o poema.
Ou o poema nos afeta.
O poema há de ser perfeito.
Ou ele come o poeta.



Denis Sarazhin - Cachecol
Denis Sarazhin, Cachecol




• Mario Quintana


HAIKAI

Silenciosamente
sem um cacarejo
a noite põe o ovo da lua...




• Emily Dickinson


1222

O Enigma decifrado
Despreza-se com pressa —
A Surpresa de Ontem
Já não nos interessa —



1222

The Riddle we can guess
We speedily despise —
Not anything is stale so long
As Yesterday's surprise —


(c. 1870)



Denis Sarazhin - Moça com flores
Denis Sarazhin, Moça com flores




• Lêdo Ivo


O DIA DOS HOMENS

Viver é preciso.
Não existe Inferno
nem Paraíso.

Apenas o chão.
E uma persistente
chuva de verão.



• Adriane Garcia


ESCULTURAS VIVAS

Repare nas mães
Tendo ao colo filhos dormindo:
Pietás de carne e osso
Carregando destinos.




poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2016


Casssiano Ricardo
   "Serenata Sintética"
   In Um Dia Depois do Outro
   Cia. Editora Nacional, 1947
  Giuseppe Ungaretti
   "Manhã" / "Mattina"
   In A Alegria
   Tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti
   Editora Record, Rio de Janeiro, 2003
Cacaso
   "Lar Doce Lar"
   In Beijo na Boca e Outros Poemas
   Brasiliense, São Paulo, 1985
Emílio Moura
   "Às Vezes"
   In Itinerário Poético – Poemas Reunidos
   Editora UFMG, 2a. ed., Belo Horizonte, 2012
Eugénio de Andrade
   In Poemas de Eugénio de Andrade
   Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva
   Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1999
Affonso Manta
   In Antologia Poética
   org. sel. e notas Ruy Espinheira Filho
   Assembl. Legislativa/Academia de Letras BA, Salvador, 2013
Mario Quintana
   "Haikai"
   In Poesia Completa
   Nova Aguilar, 1a. ed., 1a. reimpr., Rio de Janeiro, 2006
Emily Dickinson
   "1222"
   In Emily Dickinson: Não Sou Ninguém - Poemas
   sel. e trad. de Augusto de Campos
   Editora da Unicamp, Campinas-SP, 2008
Lêdo Ivo
   "O Dia dos Homens"
   In Poesia Completa (1940-2004)
   Topbooks, Rio de Janeiro, 2004
Adriane Garcia
   "O Dia dos Homens"
   In O Nome no Mundo
   Armazém da Cultura, Fortaleza, 2014
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* Cecília Meireles, "Mulher ao Espelho", in Mar Absoluto (1945)
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* Imagens: quadros de Denis Sarazhin (1982-), pintor ucraniano contemporâneo
   

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domingo, 13 de março de 2016

Dimensão / Guido Bilharino * Aricy Curvello - ES

Dimensão - Revista Internacional de Poesia
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http://www.uaisites.adm.br/iclas/pagina_ver.php?CdNotici=54&Pagina=Biblioteca 
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Um Preâmbulo
Aricy Curvello - ES

Em Uberaba, centenária cidade do Triângulo, o primeiro número de Dimensão vinha a lume em Julho de 1980. “Uma simples revista de poesia”, escreveu então seu editor. O futuro se encarregaria de desmentir o título do primeiro editorial, porém se manteria constante através dos anos o propósito do novo periódico. “E´esse, apenas esse, o compromisso desta revista, mais uma entre tantas, mortas, existentes ou ainda por existir: efetivo compromisso com a qualidade da poesia”.
O compromisso com a qualidade da poesia manteve-se durante os trinta números da publicação. Ao longo dos seus quase vinte e um anos de circulação (Julho de 1980 – Abril de 2001), é um marco de sua excelência. Outras balizas foram atingidas no curso do tempo, levando Dimensão a inscrever-se na história das revistas literárias do Brasil.
Editada em cidade do interior, longe do eixo Rio-São Paulo, sofreu a incúria e a miopia do que em nosso país se autointitula mídia cultural. Durante seu período de existência, Dimensão não foi bem noticiada nem devidamente acompanhada pela grande mídia, embora uma revista muitas vezes mais afinada com a poesia contemporânea do que a maioria absoluta das publicações incensadas do Eixo. Nenhuma delas com o alto e belo nível gráfico das dez últimas edições da revista uberabense. Mesmo nas vezes em que dela se lembraram, os respectivos textos jornalísticos, que deveriam ser informativos, revelam um certo teor de desinformação, fato comum na redação dos jornais brasileiros bem como nos espaços em branco no espírito de alguns críticos. 
Revista uberabense, em termos, apenas na medida em que sua publicação ocorreu na cidade de Borges Sampaio, Mário Palmério, Campos de Carvalho, e teve de pagar tributo a poetas de importância na paróquia. No entanto, revista brasileira e internacional de poesia, quando conseguiu superar suas origens e circular além fronteiras. Horizonte conquistado com muito denodo, pois se sabe de sua desproteção por parte da grande mídia brasileira (brasileira?). 
Embora tenha publicado poetas de outros países já a partir de sua terceira edição, ocorreu um súbito salto da revista em seu décimo número (Ano V, primeiro semestre de 1985), em cuja capa anunciou poetas brasileiros, portugueses e argentinos, assim como os criadores da poesia experimental alemã.
Foi, no entanto, a partir de sua vigésima edição (Ano X, 1990) que passou a denominar-se Dimensão Revista Internacional de Poesia . Nesse número vieram poetas do Brasil, Angola, Argentina, México, Portugal e Uruguai, além da seção “A poesia visual na Itália” (com seleção e notas de Enzo Miranelli) que exibiu trabalhos de vinte e dois autores, e o volume se completava com traduções de poemas de Saint-John Perse, Thomas Wyatt, Pierre Albert-Birot, Carl Sandburg, Sergio Solmi, Archibald Macleish. 
Ao tempo de seu número 20, Dimensão contava com alguma circulação em 36 países. No da edição de encerramento (nº 30) , em 63 deles.
Também, surpreende-nos saber que se trata, única e exclusivamente, do trabalho de um só indivíduo, o seu editor.
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ilha - Poema Processo * Antonio Cabral Filho - RJ

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ILHA



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